Trevor D. Lamb
O olho humano é um órgão extremamente
complexo; atua como uma câmera, coletando, focando luz e convertendo a luz em
um sinal elétrico traduzido em imagens pelo cérebro. Mas, em vez de um filme
fotográfico, o que existe aqui é uma retina altamente especializada que detecta
e processa os sinais usando dezenas de tipos de neurônios. O olho humano é tão
complexo que sua origem provoca discussão entre criacionistas e defensores do
desenho inteligente, que o têm como exemplo básico do que chamam de
complexidade irredutível: um sistema que não funciona na ausência de quaisquer
de seus componentes e, portanto, não poderia ter evoluído naturalmente de uma
forma mais primitiva. Mesmo Charles Darwin admitiu em A origem das espécies, de
1859 – que detalha a teoria da evolução pela seleção natural –, que pode
parecer absurdo pensar que a estrutura ocular se desenvolveu por seleção
natural. No entanto, apesar da falta de evidências de formas intermediárias
naquele momento, Darwin acreditava que o olho evoluíra dessa maneira.
Não foi fácil encontrar uma evidência
direta para essa teoria. Embora pesquisadores que estudam a evolução do
esqueleto possam documentar facilmente a metamorfose em registros fósseis,
estruturas de tecidos moles raramente fossilizam. E mesmo quando isso ocorre,
os fósseis não preservam detalhes suficientes para determinar como as
estruturas evoluíram. Ainda assim, recentemente biólogos fizeram avanços
significativos no estudo da origem do olho, observando a formação em embriões
em desenvolvimento e comparando a estrutura e os genes de várias espécies para
determinar quando surgem os caracteres essenciais. Os resultados indicam que o
tipo de olho comum entre os vertebrados se formou há menos de 100 milhões de
anos, evoluindo de um simples sensor de luz para ritmos circadianos e sazonais,
há cerca de 600 milhões de anos, até chegar ao órgão sofisticado de hoje, em
termos ópticos e neurológicos, há 500 milhões de anos. Mais de 150 anos após
Darwin ter publicado sua teoria revolucionária, essas descobertas sepultam a
tese da complexidade irredutível e apoiam a teoria da evolução. Explicam ainda
porque o olho, longe de ser uma peça de maquinaria criada à perfeição, exibe
falhas evidentes – “cicatrizes” da evolução. A seleção natural não leva à
perfeição; ela lida com o material disponível, às vezes, com efeitos
estranhos.
Para
entender a origem do olho humano é preciso conhecer eventos ocorridos há muito
tempo. Nós, seres humanos, temos uma linha ininterrupta de ancestrais que
remonta a quase 4 bilhões de anos até o início da vida na Terra. Cerca de 1
bilhão de anos atrás, animais multicelulares simples se separaram em dois
grupos: um com estrutura de simetria radial (parte superior e inferior, mas não
anterior e posterior), e outro de simetria bilateral, com os lados direito e
esquerdo espelhando imagens do outro lado, terminando em uma cabeça. Após cerca
de 600 milhões de anos, os bilaterais se dividiram em dois grupos importantes:
um deu origem à grande maioria dos animais sem coluna vertebral, os invertebrados;
e outro, cujos descendentes incluem nossa própria linhagem de vertebrados. Logo
após essas duas linhagens se separarem, ocorreu uma incrível diversidade de
estruturas animais: a explosão cambriana que deixou sua famosa marca nos
registros fósseis de 540 a 490 milhões de anos atrás. Essa explosão evolutiva
lançou a base para a origem de nossos tão complexos olhos.
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